reflexão da parashá Vayetsê
Como as Estrelas no Céu, os Grãos de Areia e o Pó da Terra.
A porção desta semana da Torá, Vayetsê, começa com o serviço espiritual de Yaacov num ambiente indesejável. Yaacov é forçado a deixar a Terra de Israel e ir para Charan. Ele é obrigado a trabalhar para o desonesto Laban, e casa-se e estabelece sua família, lançando o alicerce para todas as futuras gerações do povo judeu. Mesmo após deixar Charan, o caminho de Yaacov é repleto de dificuldades, quando deverá confrontar seu irmão, Essav.
À primeira vista, parece estranho que a Torá se concentre nesses aspectos de sua vida, em vez de focalizar as atividades de Yaacov na esfera da santidade. Mas a narrativa das dificuldades de Yaacov está incluída na Torá exatamente porque "os atos dos Patriarcas são um sinal para seus descendentes."
Durante o trajeto de Yaacov da casa de seus pais, em Bersheva, à casa de Lavan, em Charan, ele acampa para passar a noite em um local que mais tarde chamará de Bet El. A Torá declara que Yaacov pegou algumas pedras, colocou-as ao redor de sua cabeça, e foi dormir (Bereshit 28:11).
Rashi observa que as pedras serviram para proteger Yaacov dos animais selvagens. Esta explicação apresenta uma dúvida: por que Yaacov não camuflou todo seu corpo com pedras? Por que rodeou apenas a cabeça?
A viagem de Yaacov de Bersheva à Charan pode ser entendida como um modelo para a jornada da vida. Começamos nossa vida como em Bersheva, abraçados por um lar caloroso e acolhedor, e mais ainda, um oásis para o crescimento moral e espiritual. Chega entretanto o momento quando o cordão umbilical é cortado e devemos enfrentar o mundo "real" com todos seus desafios. A palavra Charan está associada à palavra hebraica charon, que significa "raiva". É uma metáfora para o mundo em geral, onde o materialismo luta com a espiritualidade e "enfurece" D'us.Yaacov sabia que se envolveria em assuntos mundanos e materiais. Entretanto, ele resolveu proteger-se para não ficar obcecado e envolvido nestes assuntos, pois eles levam a um comportamento imoral e decadente.
Yaacov desejava expor suas mãos e pés em Charan, mas não sua cabeça. Fisicamente ele faria tudo que fosse necessário para obter sucesso no mundo secular, mas sua paixão e amor pela Torá e pelo desenvolvimento espiritual seriam sempre preservados e cultivados.
Quando Yaacov escolheu aquele lugar para deitar e dormir, era a primeira vez que ele dormia em muitos anos. Aprendemos que durante os catorze anos que Yaacov passou dedicando-se na Casa de Estudos, e também, durante os 20 anos em que trabalhou para Laban, ele não dormia à noite, mas ficava recitando os salmos no Livro de Tehilim. Além disso, o lugar em que escolheu para dormir era o espaço onde seria construído mais tarde o Templo Sagrado de Jerusalém.
Embora o ato de deitar-se geralmente implique em uma descida, um rebaixamento do nível dos poderes espirituais elevados da pessoa, pode ser também interpretado de maneira positiva, pois a revelação da essência de D’us está acima de todas as qualidades específicas, e está simultaneamente refletida nelas.
Este nível de conexão ao infinito pode continuar mesmo depois que uma pessoa se levanta e fica em pé. Embora seus poderes conscientes assumam o controle, ele ainda reconhecerá a igualdade fundamental que deriva de uma conexão com a essência de D’us. Assim, o judeu confirma que não somente o material jamais consegue obscurecer o espiritual, mas torna-se um veículo para sua expressão, podendo atingir um nível acima de todas suas limitações, estabelecendo uma unidade entre o material e o espiritual.
Os três elementos da natureza
No livro de Bereshit, por três vezes somos comparados a elementos da natureza: seremos tão numerosos como as estrelas do céu, a areia à beira-mar e o pó da terra – o último tendo sido prometido por D’us no sonho de Yaacov.
Da mesma forma como as estrelas do céu são separadas no espaço por milhões de anos-luz, haverá épocas em que o povo judeu estará disperso por todo o globo. Como a areia da praia que se agrupa, mas permanece como grãos individuais, viveremos tempos que estaremos mais voltados para dentro de nós mesmos.
Por fim, estamos destinados a ser como o pó da terra que, por natureza, é estreitamente unido e será nessa condição, em perfeita união, que teremos a força de derrubar todas as barreiras e obstáculos a nossa volta, impulsionados pelas bênçãos divinas que tem nos protegido em todas as épocas.
Leia o Resumo da Parasha
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