A Outorga da Torá

"No terceiro mês após a saída dos Filhos de Israel do Egito, neste dia finalmente chegaram ao deserto do Sinai" (Shemot 19:1).


À primeira vista, este versículo parece inócuo; o que pode haver de especial em dizer-nos que os Filhos de Israel chegaram ao Sinai? Entretanto, Rashi imediatamente nos alerta para o fato de que este versículo contém mais que possamos suspeitar. Rashi enfatiza que a Torá não escreve "naquele dia", implicando que "naquele" no passado, quando eles chegaram. Ao contrário, a Torá escreve "neste dia", parecendo indicar o verdadeiro dia no qual lemos este versículo. Este emprego, continua Rashi, nos ensina que a Torá deveria ser nova para nós a cada dia, como no dia em que foi outorgada.
Se examinarmos o contexto deste versículo, verificamos que esta lição está situada apropriadamente. Como declara o versículo, os judeus acabaram de chegar ao Monte Sinai e logo depois, receberá a Torá diretamente das mãos de D'us. Imagine, se puder, a cena no acampamento dos Filhos de Israel. Limpeza, lavagem, banhos - todos estão ocupados se preparando, pois todos perceberam que este não é apenas mais um dia comum. A revelação no Monte Sinai assinala o maior de todos os acontecimentos, desde a Criação. É o clímax dos eventos que começaram com a divisão entre luz e trevas.
Relâmpagos, trovões e fumaça rodeiam a montanha - o mundo todo não pode evitar de perceber este evento extraordinário. Os judeus no Monte Sinai receberam permissão de chegar mais perto do Divino que qualquer outro povo, antes ou depois. Como poderia um judeu vivenciar este fenômeno incrível e não se tornar cativo da Torá e suas leis? Como poderia alguém em tal estado de euforia não ser avassalado por um sentimento de paixão para realizar a vontade do Criador?
Obviamente, nesta notável ocasião, os filhos de Israel sentem um intenso nível de fascinação e comprometimento com a Torá que acabaram de receber. Não podem deixar de cumprir suas leis e mandamentos. Mas e quanto ao amanhã? O que acontecerá quando o entusiasmo inicial arrefecer? O que acontecerá quando os relâmpagos, trovões e efeitos especial forem esquecidos? Os Filhos de Israel ainda cumprirão as mitsvot com a mesma intensidade? Na verdade, isso parece muito pouco provável. Exatamente por esta razão, a Torá escolheu este momento específico para ensinar a lição importante enfatizada por Rashi.
Após a euforia inicial do recebimento da Torá ter passado, eles devem entender que seu zelo em cumprir as mitsvot não pode diminuir. Assim, cada dia deve ser visto como se a Torá tivesse sido outorgada hoje. Ao relembrar aquele primeiro dia em que chegaram ao deserto do Sinai, os judeus podem novamente atingir aquele nível de entusiasmo pela Torá.
Se aqueles judeus que viveram apenas alguns dias subseqüentes à Revelação precisassem ser lembrados desta mensagem, muito mais nós que vivemos nos dias de hoje, três mil anos depois, precisamos receber esta lição em nosso coração. É muito fácil tornar-se envolvido pela rotina. Rezar três vezes ao dia, recitar bênçãos antes de comer - estas coisas facilmente tornam-se tão habituais que começamos a realizá-las feito robôs, ao invés de seres humanos. O status quo é confortável e familiar. Entretanto, este tipo de comportamento e maneiras deveria ser evitado a qualquer custo.
Os perigos da mediocridade estão bem documentados, mesmo nos domínios da não-Torá. Dante reservou o lugar mais quente do Inferno para aqueles que não queriam ir adiante, contentes em correr no mesmo lugar. Assim que começamos a cumprir as mitsvot mecanicamente, ao invés de fazê-lo com a atenção e concentração que merecem, as leis tornam-se sem vida e rançosas. Em vez de servirem de inspiração para nossa vida do dia-a-dia, os mandamentos tornam-se fardos problemáticos dos quais logo nos cansamos.
Dessa maneira, a Torá nos reúne aqui hoje para quebrarmos o círculo vicioso. Não podemos nos satisfazer com o status quo. Devemos nos esforçar para ir para a frente, buscando novos picos em nossa vida espiritual. O primeiro passo neste plano é uma mudança de atitude. Como uma criança transbordando de entusiasmo por ter acabado de ganhar um brinquedo novo, da mesma forma devemos receber cada novo dia, com o mesmo entusiasmo. Com tal mudança de atitude, a Torá e suas leis recebem um novo significado. Ao invés de serem obstáculos nas estradas, as mitsvot tornam-se nossos mapas na estrada da vida. em vez de nos restringir, a Torá agora nos liberta das amarras da mediocridade. Se apenas considerarmos a mensagem de "neste dia", nós também podemos atingir o mesmo nível de fervor e zelo pela Torá que tinham os judeus quando da Revelação. Nós também podemos nos sentirmos recebendo a Torá no Monte Sinai.
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