Qual o propósito da vida?

https://luzdakabbalah.blogspot.com/2017/09/qual-o-proposito-da-vida.html
Escrito por Editora e Livraria Sêfer


Não faz sentido começar pequeno.

A grande pergunta tem que ser feita logo de saída: qual é o propósito da vida? Sem a resposta, não podemos dar o primeiro passo seguro no caminho espiritual. Sem a resposta, apenas tropeçamos, com a esperança de estarmos na direção correta.

Para viver uma existência significativa – construir, aprender, educar, curar… – temos que entender o objetivo da existência, o propósito da vida. Caso contrário, como podemos saber se o que estamos fazendo contribui para o progresso ou para o retrocesso do mundo? Como saber se o que estamos fazendo constrói ou destrói?

Imagine que você veio de alguma terra primitiva, chegou a um país civilizado e está hospedado na casa de um amigo. Quando chega a hora de lavar as roupas, você pergunta onde é o rio mais próximo e seu amigo lhe diz que, “neste país, as pessoas não lavam as roupas no rio, mas numa grande máquina, que tem uma roda dentro e uma porta de metal”. Nos fundos da casa, você encontra mesmo uma grande máquina, que tem uma roda dentro dela e uma porta de metal, e joga todas as suas roupas sujas lá dentro. No momento em que está tentando descobrir como colocar água dentro da máquina – afinal de contas, mesmo naquele louco país civilizado, precisa-se de água para lavar –, você avista uma mangueira. Você sabe para quê serve uma mangueira, por isso a liga numa torneira e começa a encher a máquina de água, muito orgulhoso de si mesmo por ter descoberto como essa “coisa estranha” funciona.

Então, seu amigo vem correndo, gritando, porque essa máquina, que tem uma roda e uma porta de metal, não é uma máquina de lavar; é um carro. E você está destruindo o estofamento dele.

É um absurdo, não é? No entanto, todos os dias as pessoas operam a “máquina da vida” sem saber se ela é um carro ou uma máquina de lavar. Se não sabemos a função de alguma coisa, não podemos saber se a estamos usando corretamente. Do mesmo modo, se não sabemos para que serve a vida, não podemos saber se o que fazemos nos ajuda ou nos atrapalha.

Portanto, primeiro temos que responder à pergunta “qual é o propósito da vida?”. E, já que a Cabalá e a Torá são os nossos guias nessa jornada espiritual, naturalmente é nelas que procuraremos a resposta.

Mas ainda há uma questão importante a se considerar: tanto a Cabalá quanto a Torá reconhecem a existência de Deus. Por isso, antes de mais nada, temos que abordar essa concepção e seu significado. Muitas vezes, choco meus alunos quando lhes falo que, apesar de ser rabino, não acredito em “Deus”. Não acredito em Deus, mas chamo de Deus aquilo em que acredito.

É muito difícil colocar em palavras a minha crença na existência de Deus, mas, às vezes, pode-se captar essa crença numa vivência. À noite, quando entro no quarto do meu bebê, por exemplo, olho aquele rostinho repleto de doçura e paz, e fico observando sua respiração, seu peito pequenino se mexendo para cima e para baixo. Vejo os dedinhos alcançarem e coçarem a orelhinha. Tenho vontade de pegá-lo em meus braços e abraçá-lo, e sinto que o quarto inundou-se de uma presença calorosa. É mais que uma experiência; é um encontro. Nesse momento, a expressão mais natural e espontânea do que acredito – do que sei – é: “Que presente incrível! Obrigado, Deus.”

Apesar disso, sinto uma certa decepção quando digo a palavra “Deus”. Usar a palavra “Deus” para descrever a presença que acabei de sentir é totalmente inadequado. A palavra “Deus” é tão pequena e tem sido tão maltratada ao longo da história, que parece não “caber” naquela vivência.

A mesma coisa acontece quando ando por um bosque, e os raios do sol nascente “se afinam” para passar por entre os galhos e as folhas das copas das árvores. Vejo a luz iluminando as gotas brilhantes de orvalho, ouço os pássaros e sinto a necessidade de corresponder a esse magnífico presente da natureza. Quero proteger aquilo que é tão frágil e tão precioso; sinto-me comovido e digo: “O que posso fazer, Deus?”

Mas, novamente, hesito. Nesse contexto, a palavra “Deus” parece até um tanto simplória. A presença que acabei de sentir merece muito mais. A presença que acabei de sentir é maior do que aquela palavra, maior do que qualquer palavra que eu conheço; e ainda assim, quero expressá-la de alguma forma, descrevê-la de algum modo.

O famoso filósofo Georg Hegel disse uma vez que “a tarefa da filosofia é descrever aquilo que é”. Quando trato desse assunto em meus seminários no Instituto Isralight, às vezes peço aos participantes para fecharem os olhos. Depois, entrego a cada pessoa um objeto desconhecido e peço o descrevam. O objetivo desse exercício é experimentar a diferença entre “aquilo que é” – nesse caso, o objeto –
e a nossa descrição dele. Quando você segura um objeto, sabe que esse objeto é, mas não sabe o que é. Tudo que você pode fazer é descrever o que sente nas mãos da melhor maneira possível.

A procura pela verdade é a tentativa de encontrar as melhores palavras para descrever a nossa experiência daquilo que “é”. Quando abraço o meu filho ou quando me sinto abraçado pelo sol, sei o que sei por meio daquelas experiências, e as experiências vão além das palavras. Por isso, digo que não acredito em Deus. Deus é apenas uma palavra. Acredito no que “é”. Acredito na realidade que vivencio.





Extraído da obra
Luz InfinitaO Antigo caminho da Cabalá rumo ao amor, crescimento espiritual e força espiritual
Rabino David Aaron


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