A Ressurreição

Sobre a Ressurreição



Uma de nossas crenças fundamentais é a crença na ressurreição dos mortos. Acreditamos que virá um tempo em que todos os mortos serão trazidos de volta à vida, e corpo e alma serão reunidos. Assim, o último dos Treze Princípios de Fé (de Maimônides) reza: “Acredito com fé perfeita que haverá uma ressurreição dos mortos no tempo que aprouver ao Criador.”
A ressurreição é mencionada na Torá quando Deus diz: “Eu faço morrer e faço viver” (Deuteronômio 32:39).​Esta crença é expressa de maneira mais explícita nas palavras do profeta: “Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós que habitais o pó.” (Isaías 26:19) Este conceito é expresso muito claramente no livro de Daniel (12:2): “E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno.”
Contudo, há duas opiniões relativas à ressurreição. A opinião da maioria, advogada por Saádia Gaon,​Raavad,​Ramban (Nachmânides) e todos os cabalistas, é que a ressurreição é o primeiro passo em direção ao mundo vindouro.​Segundo esta opinião, os mortos ressuscitados viverão para sempre e o mundo vindouro existirá num plano físico, onde corpo e alma estarão reunidos.

Até certo ponto, a idéia por trás disso consta da seguinte passagem talmúdica:

Certa vez, [o romano] Antonino disse a Rabi [Judá, o Príncipe]: “O corpo e a alma podem ambos escapar do julgamento de Deus. O corpo pode se defender dizendo: ‘Foi a alma que pecou! Pois veja, desde o dia em que a alma me deixou, eu fiquei parado como uma pedra morta [e nada fiz de errado].’ A alma pode [analogamente] dizer: ‘Foi o corpo que pecou. Desde que deixei o corpo, tenho voado livre como um pássaro.’​
Rabi respondeu-lhe: ‘Eu te darei um exemplo: Um rei humano tinha um lindo pomar, cheio de figos precoces. Ele designou dois guardas para o pomar, um aleijado e um cego. O guarda aleijado disse ao cego: ‘Vejo lindas frutas neste pomar. Carregue-me em teus ombros e poderemos compartilhá-las.’ Eles executaram o plano, com o guarda cego carregando o aleijado, até terem comido todas as melhores frutas do pomar.
Quando o rei voltou, perguntou aos dois vigias: ‘Aonde estão minhas melhores frutas?’ O guarda aleijado retrucou: ‘Acaso tenho pés [para poder ir atrás das frutas]?’ O guarda cego [analogamente] disse: ‘Acaso tenho olhos para ver [as frutas]?’
O rei, contudo, não foi enganado. Ele colocou o aleijado sobre os ombros do cego e julgou-os conjuntamente. De maneira similar, Deus trará a alma e a reunirá ao corpo, e depois julgará os dois conjuntamente. Assim está escrito: ‘Do alto Ele convoca o céu e a terra, para julgar Seu povo’
[Salmos 50:4]. ‘…Ele convoca o céu’ – isto é alma. ‘…e a terra’ – isto é o corpo. [A razão porque ambos são chamados é para que Deus possa ‘julgar Seu povo.’ ”
Assim o Talmud fornece uma razão profunda para a ressurreição. No fim dos tempos, o homem será julgado como uma pessoa completa, um ser humano total, com corpo e alma. Uma alma desencarnada pode ser capaz de uma aguda percepção do Divino, mas não é um ser humano total. Qualquer julgamento ou recompensa dada a tal alma nunca poderia ser completa.
Muitas pessoas acham difícil compreender isso. Uma vez que a recompensa do homem, em última instância, é espiritual, que necessidade haverá de um corpo material? Por que o mundo vindouro deveria ter uma dimensão material? Para entender isso, devemos introduzir uma questão ligada a esta: Por que Deus criou um mundo físico? Esta não é uma questão tão trivial quanto parece. Deus em Si é certamente espiritual, assim como o bem que Ele oferece a Seu mundo. É óbvio que o objetivo da Criação é essencialmente espiritual. Se é assim, então por que Deus criou um mundo físico?
Extraído da obra Imortalidade, Ressurreição e a Idade do Universo – uma visão cabalística, de Aryeh Kaplan.
Se você gostou, não deixe de ler o resto desta incrível obra!


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